16.10.09

o que uma amputação é capaz de fazer?
melhor dizendo: até onde ela pode nos levar.
seria assim: a amputação leva a qual direção?
amputação de uma parte do corpo, por meio da qual nos tornamos aleijados.
tornamo-nos capitães-gancho.
senhores dos mares, cérebros guiando os pinks, imediatos e submissos ao poder mental resultante da mais pura obsessão, a crença do encontro marcado com o animal responsável pela partição do corpo.
pois o amputado não deseja o retorno.
ele sabe que nunca mais possuirá outra perna, outro braço, outro pedaço do corpo.

ele simplesmente não o possui mais.
mas quer fazer o outro pagar o preço.
e quando o outro é uma baleia?
quando o outro, o duplo de si mesmo, esconde-se sob o mar, ou, de maneira mais apurada, reside neste habitat líquido pelo qual nós, seres humanos, costumamos navegar apenas em sua superfície.

como capturar o fundo do mar?
como reconhecer a baleia se nem seu rosto conseguimos ver?
somos fisionomistas de seu rabo, o tratamos como uma face, a face escondida do rosto que não se mostra.

sem dúvida que podemos ser engolidos pela nossa obsessão.
mas seria apenas isso? podemos ser engolidos pela baleia?
a baleia nos engole, pois ela é, acima de tudo, a nossa mais pura obsessão?

sem dúvida alguma.
mas não é só isso.

o mar e o olho, o que diferem, o que podem diferir?
quando pelo olho navego no mar, quando no mar estou diante do olhar?

quando olho no olho que é o mar?
o mar tem olhos.
mas nos permite navegar.

tal transporte não é trivial.
se conquistamos as terras via mares, se desenvolvemos uma ciência marítmica, ela não chega aos pés do asfalto.

no mar nós não pisamos, afundamos.
e tal profundidade não é necessariamente aquela estruturada pelas normas da perspectiva.
esta profundidade não é de campo.
ela é mais abismo e, nesse ponto, o líquido equipara-se ao ar.
afogar-se no mar é cair em queda livre, ser pura avalanche.

o mar, e agora percebo o fascínio deste imenso lugar, a pura metáfora que é sua existência.
matéria feita de ondas incapazes de se encerrarem em fronteiras absolutas.
tudo move e, no entanto, tudo permanece.
tudo permanece sempre diferente.
a constante do mar é a variação.

e quando nos pomos a navegar neste mar
a procura da parte que sabemos que nunca mais voltaremos a ter,
voltamos a desafiar a physis, tentando controlar a dinamis.
desafiamos o que não podemos entender.

lutamos contra o monstro, a baleia, a partir de um juramento feito a nós mesmos.
não morro enquanto não pegar a baleia.
a baleia que retirou parte de mim é minha e de mais ninguém.
(aos outros eu devolvo a dó, eu tenho a minha dor).
desafiamos deuses, confabulamos maneiras de dominar o mundo.

e qual não é a frustração
de ver que o alvo, o ponto de chegada, o local desejado
é aniquilar o objeto por meio do próprio aniquilamento
pois atingimos nossa caça no momento exato que somos capturados
e nesse momento, quem ganha, quem perde, qual é a moral da história?

trata-se uma partida apenas, não de um jogo.
partida finalizada, comece outra pois essa já foi, não há retorno muito menos memória.
comece outra vez, leia de novo.
por enquanto, game over.

14.10.09

serão somente computados dados avaliados e qualificados, filtrados e comparados pela via do método empírico baseado na fundamentação (in)orgânica daquilo que acho e que denomino de minha intuição.