26.10.07

eu: autor

o fato mais estranho e condicional com o qual tenho que lidar diariamente é perceber que tudo que chega a mim é puro sucesso. tudo que me toca é devido a uma vitória de mercado. tudo que gosto me empele ao grande, ao bom, ao demais. tudo o que me obriga a pensar é sempre bem sucedido, o mais conhecido entre os conhecidos e não importa se é a música ou o arroz, se é a maconha ou é a calça jeans, se é a boite ou o livro de filosofia, tudo já me chega com a garantia da qualidade, o símbolo de que já fora testado anteriormente e aprovado.
Por consequência disso, nada posso julgar. Repito apenas o julgamento dos outros. Ou melhor, os combino. O que, de fato, me conforta. O que, de fato, me estabelece um lugar ao sol. Não tenho mesmo a pretensão de fundar ou ser um sucesso pleno. Para mim, importa mais surfar nas ondas dos sucessos dos outros. Assim, a vida perde um pouco a seriedade, ou seja, não preciso me engajar em determinada causa, não preciso ser bom em nada verdadeiramente. O que eu desejo é que os que estão em torno de mim sejam homens exemplares: referências de sucesso.
Tanto para me fazer a fita, mas sobretudo para que tal fato me permita curtir a vida, de um modo um tanto distanciado quanto intenso. é isso que peço. e por isso entendo esta ilha de teclas virtuais. é por isso. não importa a sua leitura. desde que eu permaneça entre os autores, mesmo não sendo um deles.

23.10.07

um homem que se mata

Figurantes com sacos plásticos na cabeça. todos sentados em bancos de ônibus cariocas. bancos solitários ou duplos. eis que um homem portando uma mochila sobe, tira o dinheiro do bolso, conta o dinheiro que tem, faz o cálculo se o dinheiro que possui é suficiente para a entrada, verifica que sim, reconta, separa o que ele vai dar ao trocador, põe o restante no bolso, paga a passagem, roda a roleta, procura um lugar e senta.
ele fala:
ai que bom voltar para casa após um bom dia de trabalho. eu trabalho em um teatro, operando som de peças, repetindo as teclas play, pause e stop ininterruptamente, é disso que se trata a minha prática e a minha experiência no trabalho. E de tudo isso, posso dizer que eu tenho um verdadeiro amor ao trabalho. Ao meu trabalho, pois ele não me traz nenhuma preocupação, ele é um bom trabalho, tão bom que quando o dia acaba e finalmente largo o trabalho, esqueço dele, e lembro-me da minha satisfação de ter terminado mais um dia de trabalho. Eu honro o meu trabalho pois trabalhar é relacionar o esforço ao dinheiro. Trabalhar é puro suor recompensado com poder seletivo. eu posso escolher o que eu sou e é meu dinheiro, o meu dinheiro, que ganho com o meu trabalho, é quem me permite fazer isso. Hoje estou com grana no bolso. Sempre estarei com grana no bolso. Hoje poderia ter pego um taxi. Mas preferi pegar um ônibus e, com a diferença das passagens, comprar algo para comer mais tarde. Eu digo agora que estou satisfeito. E, em homenagem a esta sensação, eu suspiro. Ufa! Meu corpo agradece a recompensa de poder relaxar como se quer. As minhas horas de folga são moldados por mim.
entra O DELINQÜENTE. veste rouba de DELINQÜENTE. Porta uma arma. e diz:
eu vim aqui fazer surgir dinheiro. eu vim aqui para tentar observar o fenônemo de multiplicação do poder. eu vim aqui porque eu posso poder também e é isso que me importa fazer aqui. Todos presentes queiram mostrar seus pertences, mostrar quem você são e, por favor, levarei vocês todos comigo e não aceito reclamações. facilitemos as coisas, é melhor para todos. ou não é. é sim, tenho certeza, amanhã estaremos todos no mesmo lugar, na mesma rotina, isso aqui é uma rotina e afinal de contas amanhã será igual a hoje. portanto, acho que todos querem fugir da rotina e, para isso, andemos depressa. vamos logo com isso. quero tudo que vocês são.
o homem com a mochila retruca:
resolvo então acatar todo o seu discurso e ofereço-me em sacrifício a esta situação rotineira. acho e sinto que eu sou o homem da vez, sou eu quem devo me sacrificar neste dia, pois sinto meu suor latejar, e percebo dentro de mim que hoje é o dia do meu trabalho, o dia do meu esforço maior. Pois bem, faça o que já está escrito. Mata-me. (grita o homem) Mata-me de uma vez! (berra) Anda! Mata! (berra grita, grita e berra).
O DELINQUENTE: Eu rio desta sua cena, rio desta sua tentativa, eu rio largamente e durante longo tempo, eu rio sem duração desta sua piada infame. não me diga o que fazer, pois sou eu quem estou no poder. Não queira girar o jogo como você fez com a roleta ao entrar aqui, não tente nunca fazer isso, pelo menos não aqui, pois eu posso fugir pela janela do comum e você não ficará bem retratado. você será o vilão. e assim o jogo acaba. não faça isso. para quê morrer?
o homem: se quer rir, por favor, deixe que eu seja o motivo do seu riso. se é isso que sente que deseja fazer, por favor, aja! É em nome disso que enuncio! Em nome da ação! Eu quero sentir a sua ação. E isto não é uma metáfora. Por favor, atire na minha cabeça! (roga-lhe) Atire e acabe logo com isso!!! (roga-lhe).
O DELINQUENTE: ridículo. Você é ridículo, não convence em nada que faz. Peço que levante e apenas siga às minhas ordens. As minhas instruções serão as instruções de todos. É este o combinado: você tem o poder lá fora. Eu tenho poder aqui dentro. Não apele. Senão, não atiro em você. Deixo você viver como covarde, como aquele que duvidou.
o homem: Está falando tudo isso porque não é você quem acabou de sair do trabalho e sente, devido a boa remuneração que acaba de receber, sente que tem o mundo. sou eu quem tenho o mundo agora e posso escolher o que fazer. Você não entende porque eu me comporto assim? Pense então quando você sair deste lugar e encontrar outro DELINQUENTE, e você então estará no meu lugar! Se isto é rotina, por favor, mata-me. Não há mais motivo para viver.
O DELINQUENTE: Você não vê, só assiste, o risco de lá de fora aqui de dentro. esta é a nossa diferença: não sei o que eu vou encontrar enquanto você quer definir o tempo. Você quer marcar um encontro. É isso. Eu não serei o pombo correio. Não serei mensagem sua. Que cadeia mais determinista é essa que define que eu terei ou encontrarei o meu próprio DELINQUENTE? Como ousa dizer isso se nem sabe como vivo?
o homem: não sei de você e nunca pretendi saber. o que eu quero é apenas esquecer você. não apareça nunca mais na minha frente, suma da minha vista e da minha memória. por favor, seja nada para mim.
DELINQUENTE: Nada nunca poderei ser, apesar do seu jogo de eterno de manipulação do poder. o seu negócio é girar a roleta. como retirar da sua cabeça o centro?
o homem: como deslocar-me? matando-me.
DELINQUENTE: girando você. matando você para quê? por quê?
o homem: Para acabar com esta situação. Se você me mata, as coisas se explicam e tudo acaba. mais nenhum diálogo, fim.
DELINQUENTE: e quem disse que eu não sou a favor do diálogo? E se eu acreditar que o seu caminho será pelo diálogo?
o homem: o diálogo pode ser a morte.
DELINQUENTE: a morte pode ser o diálogo.
o homem: vamos acabar com isso. respeito as suas vontades. é isso que quero que você entenda. Tome todas minhas coisas.
DELINQUENTE: Não quero mais suas coisas.
o homem: por quê não?
DELINQUENTE: elas não são mais suas.
o homem: eram minhas.
DELINQUENTE: portanto não são mais minhas.
o homem : eu dou a você tudo que eu tenho.
DELINQUENTE: e eu rejeito. rejeito tudo que vier da sua vontade. sua vontade não existe.
o homem: Como é que posso falar com você então?
DELINQUENTE: dialogando.
o homem: vamos então.
DELINQUENTE: nunca iremos.
o homem: como quer então resolver esta situação?
DELINQUENTE: não quero. com quer então resolver esta situação?
o homem: obedecendo às suas ordens.
DELINQUENTE: forjando um tratado de fidelidade. você é leal a mim?
o homem: sou leal ao que deve acontecer.
DELINQUENTE: então não é a mim que você se submete, ao contrário do que eu exijo.
o homem: por favor, meu amigo, o tempo é curto. vamos acabar logo com isso. se não quer me matar, pelo menos me solta.
o homem: Não vejo nenhum instrumento que te prenda.
DELINQUENTE: Você está no poder!
o homem: você está no poder!!! Por favor, peço que ande.
DELIQUENTE: Qual seria o motivo da pressa?
o homem: EU PRECISO TRABALHAR! EU PRECISO PAGAR A CONTA DE LUZ, A CONTA DE GÁS, A CONTA DE TELEFONE, O PLANO DE SAÚDE, O ALUGUEL DO APARTAMENTO, A CONTA DE ÁGUA, EU PRECISO COMER, EU PRECISO DORMIR. Por favor, não leve a mal. Resolva a situação. O poder é todo seu.
DELIQUENTE: Preciso de uma pausa.
o homen: para...
DELIQUENTE: poder respirar e pensar no que fazer.
o homem: meu ponto se aproxima.
DELINQUENTE: e daí?
o homem: preciso que você decida.
DELINQUENTE: o quê?
o homem: o que você vai fazer! Por Deus! Não demore!
DELINQUENTE: Foi por isso que pedi uma pausa.
o homem: Para quê?
DELINQUENTE: Para pensar no que fazer.
o homem: Mas não temos tempo! Você precisa decidir agora! Neste momento! Ou então eu...
DELINQUENTE: eu...
o homem: eu atiro uma bala na sua cabeça.
O DELINQUENTE entrega a arma na mão do homem.
DELINQUENTE: agora sim. agora não estamos mais perdendo o tempo.
o homem: eu...
DELINQUENTE: eu...
o homem: eu...
DELINQUENTE: eu...
o homem: eu...
luz cai em resistência. tiro. fim.

17.10.07

Sindrome de Tourette

Síndrome de Tourette é uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por tiques involuntários, reações rápidas, movimentos repentinos (espasmos) ou vocalizações que ocorrem repetidamente da mesma maneira.

Esses tiques motores e vocais mudam constantemente de intensidade e não existem duas pessoas no mundo que apresentem os mesmos sintomas. A maioria das pessoas afectadas são do sexo masculino.

O início da síndrome geralmente se manifesta em sua infância ou juventude, eventualmente atingindo estágios classificados como crônicos. Porém, no decorrer da vida adulta, freqüentemente, os sintomas vão aos poucos se amenizando e diminuindo. Mesmo assim, até hoje ainda não foi encontrada uma cura para a Tourette. Tratamentos médicos existem para amenizar os sintomas da síndrome, porém, o consenso entre os profissionais da área é que os tratamentos precisam ser individualizados por causa das sempre presentes conseqüencias adversas da receita e aplicação de medicamentos.

Os referidos tiques são movimentos bruscos involuntários que podem se manifestar em qualquer parte ou conjunto de partes do corpo (barriga, nádegas, pernas, braços etc.), mas tipicamente eles ocorrem no rosto e na cabeça - no rosto em forma de caretas repetidas e na cabeça como um todo em forma de movimentos bruscos, repetidos, de lado-a-lado etc.

Um aspecto que merece ênfase ao se tentar explicar ou compreender essa síndrome é que os sintomas ocorrem involuntariamente. Raramente uma pessoa que sofre desta síndrome consegue controlar um mínimo de seus tiques e jamais por prolongados períodos de tempo. Assim como o ser humano não consegue viver por muito tempo com os olhos abertos, pois seu corpo reage de forma natural, inconsciente, para que seus olhos pisquem, dessa mesma forma se manifestam os sintomas da síndrome de Tourette no indivíduo por ela afetado.

Infelizmente a reação de muitas pessoas desinformadas perante manifestações da síndrome de Tourette é aquela de fobia ao diferente. Ainda mais, às vezes, a reação é de repreensão. Isso ocorre especialmente quando a pessoa afetada pela síndrome de Tourette manifesta sintomas de coprolalia.

A cropalia enquandra aqueles indivíduos que, além de outros sintomas de Tourette, se vêem obrigados a repetir palavras obscenas e/ou insultos. Obviamente as conseqüências desse tipo de comportamento geralmente se traduzem em diferentes graus de desvantagens no âmbito social.

não deu.

eu tinha algo para colocar aqui mas esqueci. era algo bem legal, todos iriam gostar, coisa de gênio, mas não deu desta vez.

14.10.07

13.10.07

Abertas as inscrições

uma das piores angústias que tenho é que não consigo ver como atuo. não sei como sou chegando em um bar, dançando num show, fumando um cigarro em uma cafeteria, trepando, gozando, chorando, enfim não sei como ajo nestas situações. como eu reajo às coisas? Não posso me ver no auge da reação, apenas imito algumas características minhas desses momentos para mim. quando estou diante do espelho, estou posado. represento reações. mas como elas são na verdade?
que é que pode me dizer isso? quem é que pode me informar em relação a mim? Alguém, por favor, se habilitaria?
Inscrições aqui.

minha nega, vá à luta!

porque a vida é assim, você tem que se atirar entendeu? Não dá para ficar achando que as coisas vão aparecer do dia para a noite na sua frente que vai chover na sua mão o que você pensar em querer pois numa boa, tem até momentos em que você consome o mundo mas você não tem essa disposição toda, você tem que ser consumido também não é? Portanto, minha nega, vá à luta.
eu já não acho. discordo. não não.
você está se confundindo um pouco. não foi isso que eu disse minha querida.
imagina se eu iria dizer a você, nesta altura do campeonato, que tudo que você fez até agora foi uma bosta de erros. imagina. eu nem acho isso. não tezria porque eu dizer a você que você não presta, o que é isso, eu te acho super luz. é isso, você é luz.
veja bem minha nega veja bem eu só disse a verdade. eu disse o que a vida é para todo mundo. a vida é difícil para todo mundo, não dá para ficar se culpando de tudo o que você faz, a gente precisa comer, beber e, de acordo do lugar histórico em que a gente nasce, a gente quer consumir determinadas coisas. o consumo sempre existiu, entendeu? Só muda apenas o que se consome. e no nosso caso, a gente consome e é consumido, entendeu?
entendeu agora?
ai que bom já estava ficando com raiva da sua lerdeza. (risos)

tan tan tuntun tannan

saber ao certo para onde olhar. é isso que me cobro. é isso que eu tenho que ter. uma certa previsão do que será para ficar em paz hoje. a minha calma no presente depende da minha visão futuro. e algo tem que dar certo. eu espero pelo menos ter escolhido alguma coisa certa. pois eu escolhi várias. eu nunca consigo ter apenas uma opção.
ou será que o mundo é tão cruel? ou será que meu destino será o de ser aquele pobre menino que prometia uma novidade em tudo mas frustou, morreu na praia, não deu certo, o bolo solou, pouco fermente deram para o menino, o menino estragou, coitado, o menino estragou.
será isso.
será que eu vejo além ou sou cego? Mas é preciso ser cego para ver além não é isso que me recordo dos videntes? Será isso, meu deus, que eu recordo dos videntes? A cegueira do presente e a visão do futuro.
mas eu afirmo: eu tenho miopia, minha vista não funciona plenamente, ela tem graus a menos, preciso de um par de óculos para ver tudo. e eu não gosto de óculos. Isso talvez indique a minha sabotagem, eu não enxergo bem nas duas direções, mas vejo algo nelas.
O problema é embaçar. O problema é confundir tudo.
O problema é misturar as narrativas. Tendo uma não muito certa. O problema é pensar uma realidade que na realidade são duas realidades.

como sair disso, meu deus?

coloque uma música.
que o seu ritmo pendule.
acalme-se.
ouça.
ouça a voz do mestre.
que canta e sempre dedica a um outro extraordinário músico.
que encanta
interjeite-se. interjeite-se. interjeite-se. interjeite-se.
um orgasmo de interjeições suas.
exclame exclame exclame exclame.
um mar de exclamações seu.

d-e-n-t-u-ç-e-se
dentuçe-se
d-e-n-t-u-ç-e-se
dentuçe-se
d-e-n-t-u-ç-e-se
dentuçe-se
d-e-n-t-u-ç-e-se
dentuçe-se
d-e-n-t-u-ç-e-se
dentuçe-se
d-e-n-t-u-ç-e-se
dentuçe-se

nada como uma boa sede e um bom copo fundo com um restinho inalcançá.............vel de líquido.

2.10.07

T - Erra

assistindo Terra, espetáculo de Zé Celso que abre a sua encenação partida em cinco sobre Os sertões de Euclides da Cunha, um aspecto que me chamou mais atenção foi o modo como se dá o confronto entre atores e público. No primeiro momento do espetáculo, quando há uma separação nítida entre estas duas esferas, entre o dentro e o fora, as grades fechadas que delimitam e fecham os acessos, essas mesmas grades que também possibilitam a comunicação entre o ator e o espectador, a um gesto de Zé Celso (ele chama o público com as mãos), os observadores aglutinam-se contra as grades, forçando o contato corporal com os integrantes do Oficina. No momento seguinte, as grades são abertas e aquilo que separava o dentro do fora, o público do palco, cede, criando uma passagem entre corpos. Os atores vão ao público que foi à eles. Eles se cruzam e indiferenciam-se. Logo após, aparece do outro lado da rua, do que um dia já foi considerado fora, uma fila, todos os atores parados frontalmente diante da pláteia novamente. Lentamente, eles dirigem-se ao espectadores corporalmente, avançam sobre eles que, por resposta imediata, re-avançam em todas as direções. Todos entram e tal passagem, ou atravessamento, constitui um diálogo intersubjetivo singular, puramente corpóreo. A relação entre indivíduos se dá pelo corpo-diante-do-corpo: público em frente ao público, atores diante de atores, público em frente a atores, numa conversa concreta, material, fruto do embate corporal. Há momentos corpóreos de decisão, quando se deve escolher entre deixar, ou não, o seu corpo perder o limite no corpo do outro.
O espetáculo é recheado de palavra. A palavra, como som, como canção em que o sentido textual se dilui completamente no aspecto vocal e material do corpo-voz. A cor é outra que mostra o seu corpo, o corpo da cor (título da última exposição londrina da obra de helio oiticica). E não é à toa que h.o. aparece agora. A fauna e a flora são representadas por homens que dançam vestidos de farrapos coloridos, cena que remete aos parangolés. Os imensos tecidos coloridos que se torcem, se cruzam, se abrem, se fecham, se esgarçam e se relaxam, fazem dançar a cor-toda-corpo.
A terra, o sertão, o deserto, o são francisco, a fauna, a flora, o fogo, a rua de canudos, todos são corpos humanos. Tudo provém e se dirige ao homem e seu corpo. O formato humano que tudo representa cria uma espécie de humanismo brasileiro, uma espécie de valorização da condição ambigua do homem-brasil: aquele que constrói é o mesmo que destrói. O homem mata e morre e o meio encontrado para tais operações é o próprio corpo deste mesmo homem. Essa gente transita, cruza, atravessa. A gênese e a destruição. A entrada e a saída de cena. Quando surgem a água, o cajado, o antonio, o homem, a terra, a república, tudo enfim. Tudo ao entrar em cena, nasce. E quando a cena é deixada, tudo morre. Tudo passa, tudo passará. Terra, quem jamais te esqueceria.

Ps.: Haveria ainda o que se falar: a ênfase no belo. Belos homens, belas mulheres, belas cenas cantadas num tom de desejo. Uma pergunta que se solta agora é: onde está o lugar do grotesco neste espetáculo, especificamente. Fica para depois.