30.6.07

a distância do amor puro

Pelo contrário. percebo que o que há entre nós é o mais puro sentimento do amor. Um amor que não quer se contaminar com os desejos da matéria. Um amor que se quer virgem para sempre. Um amor cujo prazer é a própria culpa. é esta carga pesada que decidimos suportar, felizmente. é por isso que mantemos distância. Para que nós possamos nos amar.

29.6.07

pelo contrário.

pelo contrário. a justa medida. é isso que eu procuro.
eu jamais quereria ter algo sério com ele. nunca seria algo do tipo 'relacionamento sério'. nunca um namoro. nem um casamento. nem ficar. nem nada do tipo. eu deixo isso para aquelas que ele irá apresentar para os pais. a minha função na vida dele não é ser apresentado aos pais. não foi nesse lugar que eu me coloquei. não foi nesse lugar que ele me colocou. e eu também recusaria. por mais que esta recusa fosse uma mentira.
eu queria ele. só. não queria nada mais. e, na realidade, se estou assim, relaxado, é porque sei que o tenho verdadeiramente. sei que ele me pertence, assim como tenho certeza de que o meu corpo é meu. as roupas que uso, são minhas. o meu quarto, é meu. e ele também. apesar de tudo.
por vezes eu não aguento mesmo. preciso falar. preciso escrever, mandar uma carta e dizer que estou ainda vivo. sei que ele espera isso de mim. é por isso que eu mando, periodicamente, algo do tipo 'estou vivo'. algo do tipo 'estou com você'. pois sei que o que falta na vida dele é companhia. o que falta na vida dele sou eu. eu sei disso. e ele sabe que eu sei disso. e a gente sabe disso tudo.
Pelo contrário. A gente não quer ser para os outros. a gente guarda para ter sempre. não é assim? a gente não gasta o nosso relacionamento. porque a gente sabe que sempre teremos um ao outro. sempre seremos um do outro.´
é por isso. com certeza.
é por isso que mantemos distância.
é por isso que não nos vemos.
é por isso que não estamos juntos.
por que, no fundo, sabemos que somos um.
ou talvez então tudo esteja ao contrário.

27.6.07

ele sempre me faz escrever

é que tudo se resume a pergunta: 'Para quê tudo isso?' A abreviação de tudo é a pergunta sobre a sua própria finalidade. Para quê, bruno?
Tem algo também que se refere ao tempo presente e ao futuro do pretérito: tudo não se baseia no 'acontecimento' mas sim no 'aconteceria'.

a razão, o motivo e a finalidade. trânsitos e passagens. e a cada movimento, uma breve interrupção em forma de pergunta: Para quê?

Muitos respondem pelo dinheiro. Muitos respondem pela religião. Muitos respondem pela religião do dinheiro. E a gente? Respondemos por nós ou por antes-posto sistema, antes-posta pessoa?

Você lê bem. Mas nesse caso você leu o óbvio. Não por burrice, pelo contrário. Por pura inteligência.
Isto que é ser engenheiro.

Engenheiro do tempo perdido.

26.6.07

eu digo: sempre ele

se as páginas serão impressas, se as fotos sobreviverão após a breve luz, se dormir ainda é uma necessidade fatal, se os olhos ardem de tanta iluminação tecnológica, se na garganta há uma buzina latente, se eu vou conseguir decidir se amanhã decido alguma coisa é algo que ainda preciso parar para esquecer e, por isso, decidir.
muitos dizem que no brasil era impossível a predominância do modelo europeu do homem livre, pois aqui o sistema politico-econômico é outro: "a escravidão permanecerá por muito tempo como a caracteristica nacional do país..."
o fato é que sobre o palco anda e fala um único sujeito acorrentado aos seus pés e à sua boca. o fato, simples que é, é que a boca não conseguimos controlar e os passos jamais conseguimos direcionar. este é o fato. e esta é a escravidão.
aqueles muitos que diziam do brasil estavam errados por atribuírem características universais ao país.
o que de todo não é ruim. afinal, diz-se também que brasil é país nordestiço, síntese ou faixa de gaza, contendo tudo e todos.
mas eu não gosto disso. gosto de imaginar, mas é difícil ver. De todo modo, é preciso tentar saber.
quanto a mim, permaneço sem saber como me livrar disso mesmo, de mim. Hedda Glaber suicidou-se. Walter Benjamin também. Uma não aguentou a ordem ditada pela sua própria boca. Outro não aguentou a ordem fascista. E eu não aguento a ordem dos dias.
Eis que, por isso, ouço 'smoke gets in your eyes', pelos the platters, e, inesperadamente as fontes de luz que manchavam a minha vista desaparecem. é isso: eu entendo agora todas as cores das dores. um beijo, senhor, e até o dia do juízo final!

15.6.07

joão: a maravilha do mundo

você mente muito.
esse é o problema do mundo.
algo novo seria uma novidade?
algo como um novo seriado?
uma boa propaganda? algo que seja interessante e sirva para te entreter.
recuso.
prefiro os óculos velhos da vóvó, o cheiro de gengivite do vôvô e a cumplicidade entre os dois.
a verdade disto tudo, o pior, é que você sabe qual é.
mas eu vou fingir que tudo é uma maravilha e juro dançar na chuva.
Afinal, este é o seu momento.
Braços do cristo abertos e na mão direita uma maçã: esperando o último retorno.

10.6.07

cada mergulho é um flash

não sei quando o casamento surgiu mas não entendo quem não entende o desfile de moda. um tempo longo para se vestir da maneira correta. um tempo longo de espera. um desfile rápido, em flash, em nome de alguma crença. as roupas são únicas ali. as roupas são para serem vistas. o vestido de casamento e o vestido na passarela.
o início é um estouro. uma marcha nupcial, ou então uma música techno que faz com que o mero cenário ganhe vida. na igreja ou no desfile, tudo ali é para ser mostrado. somos testemunhas de um ato. Nossos olhos vêem aquilo que é para ser visto e, a partir daquele momento, irão atuar como investigadores, deverão ver se tudo aquilo desfilado apresenta-se diariamente.
a cerimônia cria laços, não só entre os noivos, os modelos. a cerimônia cria laços entre quem vê. pois são as testemunhas que irão lembrar aos modelos o que eles vestiam, o que falaram, como se portaram.
a cerimônia é puro registro.
hoje, IR a estes eventos é ver as costas do fotógrafo e do film-maker que tentam registrar TUDO. são os breves momentos de puro flash. são instantâneos feitos para serem guardados, lembrados para toda vida, ou pelo menos até a próxima coleção. DE certo modo o desfile revela O casamento; de certo modo fica claro que A cerimônia exige UM compromisso, mas este é diferente do compromisso ordinário, do dia-A-dia. o tal sim performativo ou o passo certeiro ficam circunscritos ao breve espetáculo. Após estes momentos, o que se tem são vozes das testemunhas que irão, até quando você não quiser, desfilar com todas as memórias de um evento único e qualquer.