na minha matéria, o grande atrito.
andando de madrugada ao som do alarme do carro ecoando em conjunto com uma sirene de ambulância. dois agudos que se encontravam nos meus ouvidos, enlouquecendo-me, levando-me a um estado de desconforto tamanho, tudo ali, bombas incitando meu cérebro a pensar em barbaridades, olhando para a fresta de um portão de aluminío calculando meu corpo ali, passando naquela pequena fresta caso algum tiroteio se inicie. ou então, o debaixo do carro, o debaixo do carro em que eu devo me esconder quando os ladrões chegarem. estou chegando quase na esquina e não sei o que me espera, nada sei, será que este som provém da grande tragédia, eu chegarei na encruzilhada e verei um grande transtorno, o perigo puro, a guerra diante de mim, será isso? passos e mais passos e nunca chega a esquina que está ali bem perto, quase agora, estou quase lá (devo prosseguir ou retornar?) a esquina, a esquina. a esquina. então surgem pela direita dois negros de laranja que cruzam o meu caminho, não me notam, eu passo por detrás deles, atravesso a rua e então noto um carro policial sem sirene, continuo o meu caminho olhando irrecusavelmente para frente e lá permaneço até que a viatura suma pelo asfalto. tudo emudece.
coloco então um rock adolescente da melancolia e venho confessar.
o pecado é esse. o pecado é a própria confissão. entenda. vim aqui porque tive pensamentos pecaminosos. tive desejo de tragédias. vivi por instantes a pura guerra. padre, isso é errado? Devo rezar mais? E a minha solidariedade? Onde foi parar?
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