quando, em um dia de chuva à noite, interromperam o meu caminhar em copacabana e me perguntaram o motivo de eu ainda estar vinculado ao escritório eu não soube responder.
tudo lá me faz mal.
todos os dias em que eu vejo o chefe eu engulo seco.
ele não desce. e eu não desço.
a gente se atura.
o pior é que lá no escritório há uma espécie de duplo meu...
um outro igual a mim. sabe, desse tipinho que é o meu tipinho? pois é.
esse tal outro, que possui a mesma função que eu, ocupamos o mesmo cargo, nos formamos nas mesmas coisas, enfim, trata-se de um duplo bem igual, esse tal outro é o preferido do chefe.
entendeu, já?
compreendeu como são os dias lá no escritório?
É assim:
Se o Outro saiu e o chefe chamou, tudo bem, o chefe espera o Outro voltar.
Quando eu saio e o chefe me chama, ele grita, ele berra o meu nome e todo o escritório ouve. Quando eu chego, lá está a cena preparada. O chefe me utiliza como exemplo para todos. Ele me chama a atenção diante de todos.
Isso é costume diário.
Isso é para tudo. Este tipinho de comportamento em tudo. Não digo em tudo, pelo menos tudo que se refere a mim. Ele não gosta de mim.
Por outro lado, eu não o suporto. Acho que ele não me trata bem, mas só o Outro, porque ele sabe, ele percebe que eu não gosto dele, que eu descredibilizo ele, só de olhar, ele sabe que ele não desce. ele não quer deixar barato.
o resultado de tudo, ou a moral do jogo, é que eu me saio bem nessa.
eu tenho menos idade. eu sou jovem. sacam meu comportamento? sacam como sou? Então, ele não é nada disso. Ele é mais velho e, digo mais, disperdiçou a sua juventude, não a aproveitou, quero dizer, aproveitou de modo nada inteligente, quero dizer viveu sem conviver com a sua própria inteligência, acho que foi isso.
Em mais um lado, eu não acredito que haja um ser humano burro. por isso, não o trato como tal. mas espero pouco dele. de modo que eles às vezes até me surpreende. mas não é frequente.
obviamente que me escondo por trás da juventude.
obviamente que me pergunto porque pessoas como o meu chefe são chefes de alguém. mas ele não é mau.
outra obviedade: quais são as pessoas que eu considero más?
vejam que desloquei a questão: não é mais a 'inteligência' de uma pessoa, mas o 'caráter' dela. Eu considero ele mau. Eu devo falar isso.
Não sei o porquê.
Ele é mau.
Ele sabe o que faz, ele dissimula.
Ele se veste de sorriso.
Ele galanteia pavoneia faz romance a toda hora.
Ele quer se dar bem.
Ele é velho.
Ele quer tapeçarias turcas, porcelanas, sedas, mármores, erudição, ele quer comprar isto tudo no mercado da vida.
e, por fim, chego onde queria chegar, apesar de tantos tropeços no caminhar.
a vida, um mercado.
1 comentário:
e cada um vende o q tem
poder, beleza, inteligência...
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