3.11.09

tornar-me chá
seria este o estado da complacência?
seco e reunido, amontoado e já a caminho do ser fossilizado
quando então sou posto à prova
não dissolvo mas hidrato
transfiro-me de um espaço a outro
torno-me permeável
deixo passar o fluxo que não consigo reter
deixo-me observar dividido entre o que eu era e o que eu me tornei
observo a distância do monte para o líquido
do pó ao fluido

por vezes chamo a mim mesmo para ver se ouço a resposta
xingo também para ver se consigo me misturar
por vezes gelo tentando retornar ao estado amontoado
por vezes me acho chato, o saco de ser seco, o saco de ser desenraizado

não nego que gosto de jacuzzi
não nego que gosto de mar
é que como chá, prescindo de chão
e sem chão, ponho-me a nadar na minha própria substância registrada
na memória ressecada de tudo o que o esquecimento fez de mim

enquanto chá
vejo-me evaporar
e espero a hora do último gole chegar.

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