24.7.06

Nu e cru

quando alguém me disse que era para ir mesmo à praia só que nu eu não acreditei. não poderia acreditar que estavam me permitindo ir a praia nu. não só não acreditei. como também eu reagi muito expansivamente, digo assim. digo desse modo pois como você, por exemplo, você reagiria caso um dia de férias acordasse e achasse sob o travesseiro um pequeno bilhete, um bilhetinho, um bilhete estranho feito de pano com letras bordadas dizendo assim:

"vamos hoje à praia nus"

Ela bem que saberia que isso ia dar o que falar.
Ela bem que saberia que isso ia abalar o mundo.
Ela bem que saberia que isso ia ser sucesso total.
Ela bem que saberia que isso ia ser uma jogada de mestre.

Eu gritei muito achei o cúmulo.

Ele estava andando na beira, deixando que seus pés molhassem na água, de braços cruzados, cabelos repicotados e bermuda verde, da moda antiga. ele era magro, bem magro e estava sem camiseta. Os dois estavam em pé, acabaram de voltar da água, estavam apenas no forno-vitrine. Eles então gritaram.

Ele não ouviu de início. Mas depois reconheceu que o som que ouvia era para si. O som que estava ouvindo, um dos sons, um dos ecos, um deles, no meio da praia, era destinado a si. Pelo menos, pensou isso. E procurou a origem do som.

Eu tentava me lembrar do que eu tinha feito ontem. Como havia eu sonhado com a praia do sono e acordado e encontrado um bilhete escrito: "vamos hoje à praia nus"?

Como ir à praia nu?

Sentaram. Ele ficou em pé. fumando um cigarro. Ele não percebeu mas ele estava sendo notado, seus passos e poses e olhares, todos investigados. ele foi para a praia e depois todos ficaram sabendo.

Como ir à praia nu?

Eu havia desistido completamente de procurar. sabia muito bem que não me lembrava da noite anterior. do que eu havia feito,
talvez tivesse lido um livro
talvez tivesse bebido uma cocacola
talvez tivesse trepado
talvez eu apenas tivesse adormecido,
o quarto ja estava revirado. acordei e o quarto já estava revirado. revirar o revirado para que fim? na realidade pouco procurei pois saberia que nada iria encontrar. na realidade acordei com o sol entrando pela janela. mentira, meu celular tocou, era um numero desconhecido, não atendi mas acordei e fui ver na janela o tempo bom do meio-dia. e encontro o tal bilhete no pano.

O pano era azul. Os lençois eram brancos. O pano era azul. As fronhas eram brancas. O pano era azul, as letras vermelhas. Saí da cama e fui ver o que acontecia no mundo.

Eles levantaram. Conversaram sobre os corpos nus.
Ele prometeu ir ve-los em outras exposições.

Eu planejei uma viagem, na proxima quinta-feira. Vou à praia do sono acampar. E devo ficar lá por uma semana. provavelmente, em algum momento, irei à praia nu.

Mas aqui não.
Aqui não dá.
Ele fica de bermuda verde.
Ele não fica bem nu.
Todos viram ele quase-nu.
De braços cruzados.
E eu não fico nu.

Só no dia em que eles deitados sobre a esteira estiverem no ponto, quase fritando.

Por que cru eu não como.

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