18.9.07

desdém

entre tanto sentindo-me acuado hoje no meio de tanto me faltou ar por sentir sede.
a revelação veio não por palavra minha mas por declaração quase solta mas bem certeira dela.
ela que finge não ver, que não vê de fato, mas consegue ver sempre, ela lançou uma pergunta que, de tão solta, pairava há tempos na minha cabeça.
não rola?
você acha que rola?
começou a dar sede, comecei a pensar de fato no senhor de que falávamos sem poder reconhecê-lo em nenhum traje. ou melhor, o senhor-tema, nós (ela) o vestimos de desejo. e o ar, meio pelo qual o senhor mesmo voava, sumiu. sumindo, o ar permitiu que o senhor caísse livremente sobre a minha real cabeça e eu, agora, cobiço a queda com olhos de moleca enlouquecida que deseja morar no escuro do tempo, na cegueira do tesão, na falta de vista do amor, na possibilidade louca e disrítmica da paixão.
e pronto. aí, já se percebe o novo ordenamento das coisas.
é preciso estar sobre o palco, sentado em uma cadeira. um sax entra ao fundo, meu rosto levanta, o foco sobre o rosto, os olhos fixados contemplam o senhor que passa, a cara admirada e eu, no alto do mim, werther que sou, afirmo a ilusão do amor.
hoje eu amo muito o senhor.

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