12.1.08

me acabo.

foi exatamente no meio do salão que um jovem ruivo decidiu tomar coragem para me falar toda a verdade. este jovem, um homem de letras brasileiro de aproximadamente trinta e um anos, há muito me conhecia sem jamais demonstrar qualquer inclinação amorosa por mim. com frequencia nos encontrávamos em karaokês, algumas vezes dividimos uma única canção, e já compartilhamos um mesmo microfone. eu não posso dizer que nunca havia sentido nada por ele. e talvez eu ainda possa dizer que ele também, em algum momento e em algum canto de seu corpo, havia sentido algo por mim. eu admito isso, mas não tomo como fato sério. o que havia acontecido até aquele momento eram fugazes situações de instáveis interesses. não nos considerávamos seres de compromisso. eu não representava para ele compromisso. apenas uma diversão e uma companhia. ou melhor, um paliativo para a solidão. um instrumento-espelho.
naquele dia, havia acordado cedo voluntariamente. de repente estava de pé às sete e meia da manhã e, trinta minutos depois as águas da cachoeira do horto já me escorriam todas. fiquei lá até aa fome aparecer, já de tarde. desci para tomar uma bela e colorida vitamina de açaí com kiwi, banana e melão e voltei ao aconchego da mata. caminhei de volta a cachoeira.
não há nada mais prazeroso que estar em uma cachoeira. este é um lugar que parece possibilitar um encontro a cada milésimo de segundo. cada momento de existência junto às quedas de água. primeiro se vê a queda. depois se está dentro dela. depois se é o destino da queda. o anteparo. doar o rosto aos tapas da água. uma novela das boas.
por aproximadamente dois anos deixei de ver novela. foi um período de revolta contra a tv globo. esta emissora representava todo um sistema injusto, falso e de péssima qualidade. foi neste momento da minha vida que rejeitava a minha própria história. porque cresci assistindo novela. sem nenhum tipo de julgamento moral, trata-se de um fato. eu cresci assim. sou como a gabriela.
no meu último período de faculdade, havia na minha turma uma menina que se chamava gabriela. ela tinha cabelos castanhos claros, mas estava em um momento vermelho-vinho-alaranjado. ou melhor, ruivo. ela, a cada quinze dias, retocava seu cabelo ruivo impecável. ela era gorda e um grupo de amigos a apelidou de baby da família dinossauros. eu sempre a achei bonita. mas realmente ela não segue os padrões de beleza convencionais. taí a beleza.
o caetano veloso é a minha rede globo atual. troquei a rede globo pelo caetano. agora quem me acompanha, sem saber, sabendo, é o senhor de sessenta e poucos anos que canta que é uma maravilha. ouço apenas ele, nos trinta e tal cd´s que tenho dele. dentre as canções, adoro cantar beleza pura.
Não me amarra dinheiro não! Mas formosura. Dinheiro não! A pele escura. Dinheiro não!
A carne dura. Dinheiro não! Moça prêta do Curuzu Beleza Pura! Federação Beleza Pura! Bôca do rio Beleza Pura! Dinheiro não!... Quando essa prêta começa a tratar do cabelo É de se olhar Toda trama da trança Transa do cabelo Conchas do mar Ela manda buscar Prá botar no cabelo Toda minúcia, toda delícia... Não me amarra dinheiro não!
Mas elegância... Não me amarra dinheiro não! Mas a cultura Dinheiro não! A pele escura Dinheiro não! A carne dura Dinheiro não!... Moço lindo do Badauê Beleza Pura!
Do Ilê-Aiê Beleza Pura! Dinheiro hié! Beleza Pura! Dinheiro não!... Dentro daquele turbante Do filho de Gândhi É o que há Tudo é chique demais Tudo é muito elegante Manda botar! Fina palha da costa E que tudo se trance Todos os búzios Todos os ócios...
No momento estou ouvindo redemption song do bob marley. as músicas do bob são lindas de serem cantadas ou escritas e, principalmente, as canções são o reggae, ritmo musical batizado por marley que age diretamente no corpo humano impedindo-o de se cristalizar. quando toca bob, eu vou até o centro da pista de dança e me acabo. afinal, é para isso que me servem as coisas. fazer com que eu me acabe. assim.

1 comentário:

Henrique disse...

Mas o Caetano disse:

"Meu Deus, Meu Deus, que música linda é essa, que som diferente é esse, qual o nome disso?"

E responderam a ele:

É Reggae...