12.1.08

nice to meet U.

sobre a finalidade disso tudo aqui, acontece o seguinte: a cada segundo de sua leitura de algo meu, eu devo ter construído um modo de ordenação das palavras que me permita prender você à minha escrita. eu preciso então criar um sistema político, linguístico e publicitário para me permitir captar você. e eu acho que consigo fazer isso com excelência. não é porque escrevo bem mas porque sempre faço as coisas bem. eu faço bem o que quer que seja. meu único problema é a miopia. e a alergia aos mosquitos. de resto, faço tudo bem.
um dos meus mais belos recursos é a falsidade. e não falo por redenção. não quero desculpar-me por nada. pelo contrário. sou o tipo da pessoa que todas as outras pessoas não sabem identificar quando estou bricando, quando estou falando sério. eu sou tão falso que ninguém me conhece. sou falso ao ponto de estar aqui escrevendo para você, fazendo você acreditar que eu estou falando sinceramente, olhos nos olhos, de modo direto a você. e você tem razão. eu estou fazendo isso. escrevo olhando para o que estou escrevendo, totalmente concentrado, projetando já você, que lê agora. o ponto é que nem eu sei o que escrevo e como escrevo. só sei de uma coisa. que não queria estar aqui. não gostaria de estar escrevendo. não gostaria de estar onde estou. e não é frufru filosófico. estou deprimido, depressão profunda, doença do corpo que faz com que eu faça tudo sem vontade fazer. a vontade sempre está em outro lugar que não aqui. consequentemente, devo utilizar mais uma vez a minha diplomática falsidade para fingir a mim mesmo que faço as coisas com prazer, ou, pelo menos, tendo consciência do que se passa comigo.
eu sou fã do ótimo e do sorriso. corrijo: eu sou morada do ótimo e do sorriso. a piada de mim é justamente essa: quando estiver deprimido, vou ligar para você, pois você sempre me fará sorrir. a minha depressão resolve outras.
fazer você se interessar por este texto? é fácil. não está sendo? basta eu falar de mim, sorrindo para você. meu olho concordando com tudo em você. chamo você de queridão, unindo as três palavras mágicas: era uma vez. elaboro uma fábula de mim mesmo para fazer você acreditar em si mesmo. eu sempre te confirmo. Eu digo sim a você. É por isso que você me lê de modo interessado e voraz. não estou dizendo que eu te decifro. pelo contrário, sou apenas um bom tempo. sou clima temperado. comigo, você nunca vivenciará enchentes, sequestros e terremotos. quero dizer, você poderá me trazê-los, mas eu jamais irei propô-los a você. porque o fato é que eu não me interesso por você. o que eu quero é poder. o modo como você irá me consumir é seu e não me interessa. o importante é que você me leia. a garantia que eu dou é essa: um grande prazer. nice to meet you. Ou seja, quero este pacto com você sem me sujeitar a isso. Vamos manter nossas distâncias mas por favor reconheça sempre a minha criatividade. como feedback, estarei sempre confirmando a sua personalidade. e estamos combinados.

1 comentário:

Henrique disse...

Pois é.
Tropecei no teu texto e eu o li até o final.
Esquerda e direita a minha pupila seguiu as palavras.
Comunhão disso. De idéias.

O prazer é meu.