18.5.08

muro sequer.

como deve ser o mundo em que ninguém sonhou. aquele lugar que nunca ninguém imaginava nada e que nunca ninguém havia imaginado. um espaço todo sem identidade, sem reconhecimento, um espaço que não seguisse a logica do sonho, nem esta daqui, por que esta daqui, em alguma medida é e será sonho. o tempo então, nem se fala. o tempo seria, nem se poderia estar falando de tempo aqui pois não podemos nem pensar como ele seria. se haveria plantas, bichos e respiração, não se sabe. a canção, por exemplo. como seria a canção? como seria o mundo não sonhado? Como seria nada fazer sentido, não por este nada estar contra você, mas justamente por este nada ser algo que faz parte de você, mas você não conhece. você. tudo deve acontecer dentro de você. porque é você quem vê. não sou eu. eu agora estou em outro lugar, fazendo outras coisas e só por uma graça muito divina é que talvez nos encontremos propriamente neste lugar. mas não. eu certamente estou fazendo o que você deveria estar fazendo e vice-versa, porque eu, por exemplo, não leio os meus textos e por isso, justamente por isso, que eles estão todos estragados, sem pontos virgulas acentos maiusculas minusculas tudo tudo sem revisão. porque eu acho que a vida não tem revisão. tem retorno. mas não tem revisão. quero dizer, tem revisão, mas não tem retorno. retorno, retorno mesmo, não há. porque neste mundo o tempo não pára. e não pára mesmo. não dá. daria. nesse outro mundo que é possível imaginar, dá para haver um retorno, simplesmente se abolimos a noção de desenvolvimento. mas o que ocorre com o nosso corpo? o mais difícil em se rejeitar a noção de desenvolvimento é o nosso próprio corpo. e é esse o motivo pelo qual se fala tanto, hoje, nesse mundo em que imaginamos viver, em corpo. se o corpo hoje é a cifra do nosso tempo, não resolvemos nada. e pensamos estar fazendo-o confrontar com todo o mundo, ou seja, falamos em experiências corporais, físicas, mas não é nada disso. quando se fala que tudo é corpo, nada se está falando. obviamente que tudo é corpo. tudo é um único corpo. até aí está tudo sob controle. falar sobre o corpo é um ato de derrota, quando não se tem mais o que pensar, quando o pensamento já o deixou em um pequeno quarto escuro frio e escroto e você canta socorro não estou sentindo nada. pior do que ser vulnerável ao sentimento, é não sentir nada. e eu canto essa música, porque eu a adoro. não sinto nada. nem ninguém sente nada. é preciso ser cego para sentir, é preciso construir e eu sou incapaz de fazer um muro sequer.

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