3.6.08
jurei porque não consegui dizer nada melhor. disse sim à promessa, jamais contaria a ninguém aquilo que havia acontecido entre nós, entre eu e ele. jurei, sorri e o olhei fixamente. ele conseguiu ver em mim a expressão de sinceridade e, mais ainda, de abrigo. mas não podia guardar tudo aquilo só para mim. não gostaria nunca que a história dele ventasse aos quatro cantos, mas não gostaria que a minha história sufocasse em um ato inesperado de pretensa confiança. jurei sabendo que não deveria jurar. jurei consciente de que o juramento, como todo juramento, era falso e não procederia. e acreditava não estar cometendo nenhum ato de infidelidade, não estava sendo desleal àquele que me foi próximo once, não estava. como posso explicar? estava tentando enxergar o meu próprio corpo, após os momentos de (des)colamento ao corpo dele. estava tentando colocar em palavras o que eu havia experienciado tanto na proximidade quanto na distância, tanto no ato quanto na falta dele. talvez você entenda melhor desse modo: quando estava com ele, eu o via por inteiro, conseguia tatear as partes do todo que se apresentava diante de mim. quando essa situação se desfez, fiquei eu, tateando a mim. mas há partes minhas que não consigo tocar. por isso utilizo as palavras, elas talvez toquem naqueles fatos que são mais dificeis de confrontar. ou talvez elas sejam antibióticos. palavras são como antibióticos. através delas a dor passa. ao menos tenho conversas para (man)ter, fatos para contar e, no processo de narração daquilo que me ocorreu, de um lado trato de tentar iluminar as sombras; de outro trato de projetá-las todas para fora, passo adiante tudo, não só a experiência com ele, mas, principalmente, o sentimento por ele, o diante dele, e também tudo que fui para ele. jurei, portanto, para me purificar. não saberia viver só em um corpo acostumado ao viver junto de um ele que vive só. foi preciso molhar com palavras as partes íntimas tornadas, com isso, objetos do povo. melhor assim: quem inventou o amor e as palavras não foi eu. por isso, ´não preciso ter nenhum tipo de obrigação com os tais. por isso, passo adiante. sou como aeroporto, caixa 24 horas, shopping center ou cone-sushi. sou um abrigo, em puro trânsito.
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