7.7.07

a vida da morte

quando apertei o play hoje não sei como foi não sei o que me deu mas comecei a chorar. aquilo que me fez apertar o play hoje foi a fome e a solidão. estava em casa comigo quando ouvia a música do play e então chorei. fiquei triste. muito triste. e então desfilava minha irmã, minha avó, minha mãe, minhas amigas, meus cachorros, meu pai, minhas tias, meus amigos, tudo que é meu e que por isso mesmo eu devo viver sem. pensei de início que estava chorando pela dificuldade de se fazer tudo. mas não era porque não é dificil nada. chorei, e choro, pois ao mesmo tempo que acarinhava meu cachorro preto estava com isso dando adeus a ele. naquele momento em que eu via ele, ele simplesmente me abandonava, ele morria. percebi então que minha casa então era o próprio túmulo. percebi que tudo que me é próximo, de fato, é tão distante, tão distante, tão distante, que parecia muito próximo. percebi que não havia proximidade de nada com nada. que eu não me reconhecia e que tudo era memória. o desfile de todos os meus amados pela memória e a dura realidade de viver sem eles, de conviver com a morte deles. cada momento da matéria é então o último instante da sua respiração. a dificuldade é justamente dar tchau.
por isso que o bruno sempre fica. porque ele não é ninguém. com ele eu sempre vivi sem ele. ele é o meu puro sem. ele é fantasma, porque está morto. e a distância que ele nos coloca é justamente a morte entre nós dois. disso decorre um relacionamento entre dois mortos. somos dois fantasmas que hora ou outra parecem dialogar. sem matéria. sem nada. sem nem a gente mesmo. e é então que nós aparecemos. como possibilidade da vida eterna da morte. como dúvida, como uma pergunta: essa morte pode viver para sempre?

Sem comentários: