14.2.08

19790917

Ontem, domingo, Olivier G. veio almoçar; para esperá-lo, recebê-lo, eu tivera os cuidados que em geral atestam que estou apaixonado. Mas, desde o almoço, sua timidez ou sua distância me intimidava; nenhuma euforia, longe disso. Pedi-lhe que ficasse ao meu lado na cama durante minha sesta; ele veio amavelmente, sentou-se na beirada, leu um livro com ilustr~ções; seu corpo estava muito longe, se eu estendia o braço para ele, não se mexia, fechado: nenhuma condescendência; de resto, logo foi para o outro cômodo. Um espécie de desespero me tomou, eu tinha vontade de chorar. Eu via claramente que tinha de renunciar aos rapazes, pois não havia desejo deles por mim, e que eu era ou muito escrupuloso ou muito desajeitado para impor o meu; que este era um fato incontornável, atestado por todas as minhas tentativas de flerte, que eu tinha uma vida triste, que eu, finalmente, me entediava, e que era preciso retirar esse interesse, ou essa esperança, de minha vida. (Se pego um a um meus amigos - afora aqueles que não são mais jovens -, a cada vez é um fracasso: A., R., J., -L., P., Saul T., Michel D. - R.L., muito rápido, B. M. e B.H., sem desejo etc.) Só me restarão os michês. (Mas o que eu faria então durante minhas saídas? Observo sem cessar os jovens, desejando de imediato estar apaixonado por ele. Qual será para mim o espetáculo do mundo?) - Toquei um pouco de piano para O., a seu pedido, sabendo desde então que tinha renunciado a ele, ele tinha seus belíssimos olhos, e seu rosto suave, suavizados por seus longos cabelos: um ser delicado mais inacessível e enigmático, ao mesmo tempo suave e distante. Depois o mandei embora, dizendo que tinha de trabalhar, sabendo que estava acabado, e que para além dele alguma coisa estava acabada: o amor de um rapaz. (R.Barthes.)

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