2.3.08

os dias, um dia.

existem sentimentos e sonhos que não exigem explicação. você é desta categoria de acontecimento que surge sem avisar, sem porquê, sem que eu possa controlar. você, em uma breve revisão que eu possa fazer de mim, é um impeto, um desejo, uma curiosidade, uma vontade que jamais passa, algo que vem e dita meus movimentos já partiturizados pelo tempo. o que eu faço é sempre a mesma coisa. quando procuro você, venho aqui e digo: você. não encontro nada, além disso, além de bites que se fazem brancos a espera disso, destas letras-bites que se fazem ocupações dos espaços em branco. não sei se sacio o desejo que tenho de você. não sacio.
aquilo que diferencia você de todas as outras mercadorias que eu consumo é justamente o fato de você não aparecer. ou melhor, você, só aparece em sonho. você é pura presença que sinto quando mais me angustio no acordar da manhã. você é meu refúgio. assim seu corpo é lugar para onde desejo ir e nunca vou. o que faço aqui é registrar apenas todo o meu desejo de me esconder inteiramente em você.
posso assegurar que seríamos felizes, assim como posso assegurar que seríamos totalmente complexados. por tudo que nós fomos, por nada que fomos.
nada. é isso que nós fomos. e é justamente nisso que eu insisto. insisto no nada que desejamos ser e que tornamos a nossa relação. talvez amanhã ou depois, em uma amanhã separado por décadas de vidas dedicadas aos outros, possamos nos encontrar e dizer a nós mesmos que nos pertencemos, que sempre nos pertencemos, que nosso único encontro foi, é e será sempre um encontro único.
isso talvez seja mero sonho. talvez ainda estas palavras estejam aparecendo em atmosfera onírica em que eu assumo não o meu corpo mas o corpo de tudo, onde eu sou tudo que não controlo e por isso sou mundo ou mudo.
eu sempre vou querer você e o que tem de pior nisto tudo é que nunca terei você, porque você escapa. você apareceu para escapar. e eu, elegante que fui, elegante que sou, não sobrevivo para apostar em um doença paranóica qualquer que possa me rotular.
mas você não me sai. eu acordo em alguns dias e simplesmente está lá você. o que eu posso fazer? que vontade de te chamar, que vontade de voltar tudo, sim, de tentar não controlar, mas conversar com o tempo e fazê-lo entender que uma vez diante de você, jamais eu poderia viver de outra forma, de outro modo, que não em sua função.
pode parecer loucura, pode parecer demais, mas é isso. é demais que eu não aguento. é tanto que eu não sei viver sem você e vivo já há anos. eu não sei de você. e no entanto este não saber me enche, me produz sonhos em que você está lá, presente, afagando tudo de mim, afagando a mim e juntando-se ao que é mim transformando tudo isso de nós dois em algo pronto, algo já, algo isso, algo uno.
acho que nunca saberei amar outra pessoa que não você.
acho que minha vida toda é sacrifício desde os breves momentos em que surgiu você.
talvez isso seja cristão demais.
mas acho que isso é insconciente demais.
certamente eu sou você.
mas mais certo é que eu preciso de você. talvez como você precise de mim.
talvez um dia. quem sabe um dia.
um dia gregor samsa acordou e se viu transformado em um inseto.
eu te amo demais.

1 comentário:

Anónimo disse...

Vishi, podes comemorar ... fazer das suas palavras as da sua plateia, receba-as e enlouqueça de vez, em vez dozoutros, no more, baby.