não consigo entender a chave disso tudo: qual seria a relação entre o ganhar e o perder? ganha-se para perder? perde-se para ganhar? Como sobreviver a tantos ganhos-perdas? Como me comportar diante de tanta notícia boa e tanta notícia ruim? Seria tudo mera preocupação mimada? Como estar aberto a vida e deixar ela se esvair ao mesmo tempo? Como aceitar que um lado frutifica e o outro desvanece? Não é retórica, é dor plena. Hoje foi um dia incrível, em que lidei com pessoas que estavam valorizando a mim, a meu trabalho, meu afeto, minha vida. No finalzinho do dia, recebo a notícia de que minha vida (leia-se alguém que faz parte dela) perdeu metade da vida. Um lado movimenta, o outro não. E percebo que não é ela sou eu. Seus dois lados são meus. Como consigo levantar a mão direita e outra não? Porque ela não me obedece? Algum dia ela obedeceria? Algum dia ela obedeceu? Onde está a chave disto tudo?
Fui ao médico para resolver problemas, para consertar a saúde, para melhorar o desempenho de vida. Estava insatisfeito. Meu metabolismo acelerava mais que o necessário e, por vezes, era tomado por certos descontroles. Na quinta-feira, resolvi operar. Só que algo aconteceu. Não sei bem dizer, estava dormindo. Quando acordei, ainda meio dopado, percebia que não percebia um lado, uma parte, a outra parte. Poderia ter percebido apenas o presente e esquecido o passado. A outra parte não percebida poderia ser o passado acelerado. Mas não. Percebia o passado e ele agora assumia outro ritmo, um ritmo normal, de modo que agora o presente estava erroneamente cadenciado. Só que na sequência da vida (como ocorre no encadeamento das palavras) não se volta, não se pode voltar, o tempo não deixa e só então lembrei que já havia morrido antes por outrem. E agora morreria denovo. Morreria em parte. E não sei se daí nasce algo mais. Provavelmente sim. Mas não será uma flor no asfalto. Uma bromélia no alto, bem no alto de um tronco grosso, ríspido, atritoso, difícil de escalar. Uma flor, se ela for flor, talvez nascerá. O acesso será muito complicado. Não sei se estarei disposto a encontrá-la, talvez não pela dificuldade que há em meu corpo. Meu corpo, onde foi parar?
Não estou sentindo meu corpo. Não sinto algum lado de que não posso mais falar. Haverá algum retorno? Aguardo uma providência divina. Neste momento, passei a acreditar em milagres. Aquelas crenças que surgem com as lágrimas...
1 comentário:
pois é
não tem graça só ganhar, ganhar, ganhar... senão, para onde vai? chega um dia você vira oito vezes o que era. ninguém agüenta. e se fosse só perder, o fiapo também não se agüentaria...
é um re-colocar de cartuchos. aprender a dar tchau. dar tchau é delícia! tchaaaaau...
e enquanto um braço dá adeus, o outro é subitamente surpreendido com um abraço.
e quanto à flor
ela nasce. ainda quem em cascas grossas e asfaltos violentos. ainda que em barro seco.
basta ter semente e magma. basta a profundidade estar alimentada.
porra, manolo! agora dá licença, senão eu moro telepifando...
impossível ler um só!
meu elma chips predileto!
Enviar um comentário